Sunday, February 3, 2008

Esta noite chorei.

Chorei nos braços da minha mãe como há muito tempo não o fazia. Chorei como se fosse ainda um miudo de escola de quem um dia fizeram troça. Chorei porque tinha que chorar, isento de vergonha, medo ou receio de ser julgado.

Mas desta vez não foi por humilhação, não foi por mágoa, não foi capricho. Antes fosse.
Senti por fim o peso da maturidade, tantas vezes forçada por desilusões, pela distância de casa durante os primeiros tempos de faculdade, pela falta de compreensão, pela falta de um ombro de apoio no momento em que uma pequena parte de nos se desmorona. Senti-a chegar como uma vaga ameaçadora, cheia da responsabilidade, a cruel e fria responsabilidade, de um dia ter de enfrentar o mundo; de perceber como nem todas as coisas não são de verdade cheias de côr, ou manhãs de inverno, ou filmes que nos arrebatam, ou de amigos que dizem ter saudades nossas.
Foi o peso, o fardo da responsabilidade de ter de começar a ser adulto, de um dia ter de deixar tanta coisa para trás, de ter de começar a usar calças de vinco e gravata, de não poder ler em voz alto os títulos das revistas cor de rosa na papelaria, de não poder voltar a fazer danças estranhas perante os meus amigos em plena rua, de um dia ter de preencher os papeis do IRS ou de assinar documentos vinculativos à sociedade operária. Tudo porque não quis sentir perder a fé na imaculadada bondade que possa haver em qualquer pessoa. Por me recusar a acreditar que certas coisas que pareciam impossiveis, são-nos a certa altura arremessadas; fazem-nos acordar. Fazem com que nos tornemos adultos, e avisam-nos que temos mesmo que ser adultos, temos de "engolir sapos", temos de nos sujeitar, por vezes até deixar-nos humilhar, tudo porque não temos ainda poder suficiente para contrariá-los, para vincar sem receios os nossos princípios.

Por isso hoje chorei. Chorei porque luto continuamente. Porque uma ténue luz dentro de mim diz-me que não posso perder a fé, que não posso perder os anos que me restam antes de só quase me restar ser adulto (terei tanto tempo para isso...) a pensar que aquilo que sempre acreditei pode não valer a pena.
Chorei para manter vivo dentro de mim o desejo de não sucumbir à amargura da injustiça (e oh, como tenho razões!) e deixar que o sonho continue a preserverar, que continue a fazer-me acreditar que, se cheguei até aqui, é porque estou destinado a alguma coisa. É porque realmente vale(u) a pena. É isso que me mantém vivo.

E sempre, mas sempre, com um sorriso.

4 comments:

Helena Martins said...

Fofy... I's really not so bad to be a grown up, you know? Beijinhos grandes!

Anonymous said...

continuas a poder fazer danças estranhas em frente aos amigos, e a ler alto títulos de revistas cor-de-rosa, e a rir-te exactamente das mesmas coisas, e a chorar baba e ranho pelas mesmas coisas sem sentido, e a sentir-te adolescente, e a sentir-te criança, e a precisar do colo dos pais. it's really not so bad, and not so different. believe me. beijo grande, sara.

telma said...

I wanna go to neverland. *

Anonymous said...

Lindo.

Adorei, Rick!

Beijinhus* e Força!