Monday, June 18, 2007

Fotografias em movimento


Há uns tempos, houve um dia em particular que me deixou a pensar.

Nesse dia, o que me aconteceu:

- Vi uma mulher cega a carregar o seu bebé ao colo com um braço, e com o outro ia apontando a sua guia para as bordas do passeio, à espera de se manter no mesmo, enquanto os carros passavam a seu lado a toda a velocidade. A mulher ia a falar com o filho, e este ouvia atentamente enquanto ia explorando o que via, absorvendo tudo como uma esponja (bem ao jeito das crianças de alguns meses de idade :).

- Vi um senhor (eufemismo:) de uma idade já mais avançada a conduzir numa rua movimentada em hora de ponta, que circulava a 25km/h (sim! é possível andar tão devagar), que não só coleccionou várias apitadelas de condutores furiosos (myself included), como quase atropelava (como por ironia) uma senhora também de uma idade mais avançada na passadeira.

- Vi na Biblioteca Geral da UC uma senhora que trazia uma máscara verde, como as dos cirurgiões; tinha os olhos encovados mas expressivos, com a pele envelhecida mas sorridente, com uma cabeleira que até foi bem escolhida, e na mala que trazia viam-se algumas caixas de medicamentos. Tomei a liberdade de pensar que provavelmente tinha um cancro e estaria a fazer quimioterapia.

- Vi uma rapariga a passear no Dolce Vita que trazia argila na cara (estava cor-de-laranja), que trazia uma mini-saia vermelha brilhante que parecia um cinto, por cima de umas meias que não sei de que material eram, mas tinham um padrão de flores ou folhas (não percebi muito bem); trazia também um top vermelho com um decote quase até às pernas, umas pulseiras vermelhas daquelas que parecem discos de atirar aos alvos (sabem, aqueles que temos de acertar num pauzinho :P) e com uns sapatos verde-alface a rematar (!). A seguir a esta visão não consegui pensar nos 4 minutos seguintes (foi demasiado intenso).

Quando cheguei a casa, pensava em tudo isto que tinha visto (incluindo aquelas coisas que agora não me lembro), e sorri.

Pensei no filho da senhora cega, na felicidade que ele trazia... Consegui perceber que nada lhe faltava. O facto de a mãe ser cega... não importa.

Pensei no sorriso da senhora da máscara, na sua vivacidade... E admiro a sua luta, admiro a sua coragem.

Penso na personagem vermelha, e no seu "I don't care what people think." (Tenho de confessar que me assustou um bocadinho, porque ela apareceu assim do nada e eu não estava preparado.) Mas that's alright... Ela está bem consigo própria, e isso eu admiro.

Pensei no senhor assim de idade mais avançada, e sorri. Não por perceber porque andam tão devagar na estrada (acho que não chegarei aí tão facilmente), mas pela situação cómica que foi. (Afinal I'm only human). LOL


É nesta biodiversidade que me revejo :)