Sendo um amante assumido e orgulhoso de cinema, aceitei o desafio da
Lena de falar sobre os 5 filmes que mudaram estranhamente a minha vida (aviso: impossível colocar metade das razões para cada um dos filmes, por isso terão de os ver quem ainda não os viu para os compreender na totalidade. :)
AMERICAN BEAUTY
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Vi este filme depois de ter começado a assistir ao
Six Feet Under com regularidade, quando ao anunciar a série na RTP 2 faziam referência a "Alan Ball, o argumentista premiado de
American Beauty". Desde aí este filme tornou-se uma experiência diferente cada vez que o vejo. Sugere-me uma nova interpretação de cada vez que começam os créditos finais. Nada neste filme é por acaso, nenhuma deixa foi escrita sem intenção, nenhuma personagem nos deixa indiferente. Desde a subtil transformação e afirmação de Jane até à exposição da nudez física e fragilidade mental de Angela, passando por pormenores deliciosos de humor ácido e cortante, bem ao estilo que Ball me tinha habituado em
Six Feet Under. Uma obra prima que me ensinou a acreditar que a felicidade passava por muito menos do que esperava.
Personal favorite.
THE MIGHTY
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Lembro-me perfeitamente de ter 10 anos, de estar no Arrábida Shopping com os meus primos, e de termos decidido ver este filme. Foi um dos poucos filmes que vi, que me marcaram, mas não voltei a rever. Estranhamente, não seria um filme que iria gostar particularmente se o tivesse visto ontem, mas sem dúvida que mudou estranhamente a minha vida quando tinha aquela idade. Fala-nos sobre o verdadeiro sentido de amizade, de sacrifícios, da valorização do pouco que temos como sendo suficiente. Para um miúdo aspirante a romântico, sonhador e defensor da ingenuidade como eu (na altura... e um pouco agora, tembém), tudo fez sentido naquele filme.
Ensinou-me que o fogo-de-artifício não era mais do que um conjunto de metais a reagir com a água (cena revelada pela foto); ou seja, o velho "nem tudo o que parece é" ficou ali bem presente.
ETERNAL SUNSHINE OF THE SPOTLESS MIND
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Há filmes que, talvez por estarmos um pouco mais tristes ou sós no momento em que os vemos, conseguimos absorver de uma forma tão fascinante que ficamos com a sensação de termos sido atingidos por um relâmpago. É muito difícil para mim falar deste filme. "O essencial é invisível para os olhos", mas interessa reter que o essencial é mesmo a resolução de que não há relações perfeitas, e que nunca poderá haver. Este filme deu-me a permissão consciente para não acreditar que quando algo corre mal, está condenado a deixar de existir (e isto, incrivelmente, aplica-se a demasiadas relações que cada um de nós mantém, sejam elas de que tipo forem). Ensinou-me a encontrar mais do que uma mão cheia de soluções para cada obstáculo colocado à minha frente a partir daí.
Ensinou-me a nunca mais ter "receio" de olhar alguém nos olhos durante uma viagem de comboio, porque o máximo que podia acontecer era esse olhar não ser retribuído. And that's ok.
ADAPTATION
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Mais uma vez, o génio de Charlie Kauffman no seu melhor. Sem dúvida que o mais delicioso neste filme é o sem-número de pequenas coisas aqui frisadas que teimamos em ignonar no nosso dia-a-dia. O que me ensinou/relembrou? Que ter um objectivo, um purpose, é aquilo que nos mantém alertas e dispostos a considerar hipóteses e enfrentá-las como pequenos grandes desafios, e sobretudo, relembrar-nos que somos nós que controlamos a nossa própria vida, e o partido que tiramos dela. Poderemos não ser caçadores de orquídeas, nem argumentistas emocionalmente disfuncionais, mas muito menos até, ou até mais... quem sabe!
O importante é dar-nos a liberdade de irmos à procura desse objectivo, ou de todos os objectivos a que nos propomos, e nunca esquecer que não há problema se não os atingimos, porque no mínimo podemos sempre traçar outros novos.
LE FABULEUX DESTIN D'AMELIE POULAIN
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Por todas as razões já citadas nos outros blogs ("Cliquem!" na barra do lado direito), é impossível ficar indiferente à magnífica obra do senhor Jeunet.
Deixo-vos apenas a foto (acima) e a frase:
"Sans toi, les émotions d'aujourd'hui ne seraient que la peau morte des émotions d'autrefois"